quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Base legal para igrejas sem CNPJ

Nosso Direito entende que uma igreja (no sentido de grupo de cristãos) não precisa ser registrada para existir. Ou seja: não é ilegal e nem ilegítimo um grupo existir uma "igreja" sem registro em cartório (Essa liberdade de reunião, de culto e de crença está garantida no Art. 5.º da Constituição Federal).
Isso fica claro na seguinte citação do texto cujo link é apontado acima:

"(...) a associação (termo genérico) e sua face específica e especialmente protegida da Organização Religiosa pode perfeitamente existir como uma prática social plena de valor, sem que dela tome conhecimento o Estado. Para dirigir-se a este, todavia, quando há necessidade de obrigar outrem a alguma prestação ou abstenção (no presumível interesse de seus associados/membros), deverá conformar-se ao Registro que lhes conferirá personalidade jurídica e capacidade plena inclusive para figurar nos pólos ativo e passivo de lides judiciais ou administrativas. Caso contrário, os associados poderão emitir procuração para seus líderes ou formar litisconsório para litigarem conjuntamente, mas em nome próprio"
(parênteses do autor).
Este texto apenas analisou a possibilidade de uma igreja, enquanto grupo de pessoas com objetivo religioso em comum, existir sem registro civil. Isso não significa que não existam motivos para esse registro: obtenção de CNPJ para obter conta bancária, contratar pessoas, alugar imóvel etc como pessoa jurídica. Mas uma igreja que não tenha tais objetivos (uma igreja doméstica, por exemplo - ao modelo das igrejas primitivas) talvez veja vantagens em não registrar seus documentos em cartório - o que não significa que não possa ter estatuto e atas devidamente assinadas e guardadas, por exemplo, na casa de um dos membrosDe fato, tais documentos "de gaveta" têm legitimidade, exceto - segundo o entendimento da maioria dos juristas - sobre terceiros (sobre pessoas que não fazem parte da igreja e, paga algumas finalidades , o próprio Estado).

FUNDAMENTO
Historicamente Igrejas fundaram-se, desenvolveram-se e extinguiram-se independentemente do Estado. A rigor, prosperaram muitas vezes contra a ordem Estatal, crescendo na tribulação das perseguições inspiradas por outras religiões na época dominantes e ligadas aos Soberanos. O caso do Cristianismo versus Império Romano é emblemático.
Lembramos o caso das mais antigas e duradouras religiões, como, por exemplo, os cultos a Hórus e Isis, no Egito antigo. Ambas foram parte da complexa Religião Oficial (o Faraó era o Sumo Sacerdote natural) e tiveram templos, culto, rito e honras durante cerca de 2.500 anos – bem mais que o próprio agora dominante Cristianismo. Os últimos sacerdotes da Deusa, no templo de Philae, foram passados a fio de espada, já na época ptolomaica, demonstrando que a história da religiosidade está desde sempre imbricada com a intolerância das perseguições.
Quando os Reis eram ungidos pelos chefes das Igrejas (ou quando eram os próprios), havia o reconhecimento formal do poder Estatal pelo poder eclesiástico e não o contrário. Foi com a separação paulatina entre Igreja e Estado que passaram a fazer sentido registrarem-se os Estatutos daquelas7. Sobre este ponto falaremos adiante.
Qual o propósito do registro, então? Não é preciso encarecer que o ato registral visa a conferir existência jurídica, a fazer “nascer” a pessoa jurídica. Assim, poderá contrair obrigações e exercer direitos – se preciso recorrendo ao Estado/Juiz. Os arts. 55 e 56 do Estatuto acima citados são exemplos: para funções não “eclesiásticas” podem-se contratar empregados (faxineiros, seguranças e outros) e nas avenças em geral, fica protegido o patrimônio pessoal dos integrantes (uma ação trabalhista, v.g.).
Assim, as entidades associativas e pessoas jurídicas em geral dirigem-se ao Estado e pedem-lhe o oficial reconhecimento, que lhes conferirá existência na esfera cível das relações juridicamente tuteladas mantidas com terceiros8. É em busca da proteção do Estado que assim ocorre – não com o fito de pedir permissão para realizar suas reuniões nem para propriamente funcionarem no que tange ao relacionamento cordato dos membros entre si e perante o grupo personalizado. Tanto assim é que nossa Constituição Federal traz como Direitos Fundamentais e Cláusulas Pétreas autoaplicáveis os Direitos à reunião pacífica e à livre associação9 para fins lícitos. Neste diapasão, citemos os principais incisos a tratarem do tema, doravante referidos e que podem ser invocados pelas pessoas físicas quando surja conflito interno ou exógeno:
Art. 5º ….
VI - e inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
...
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
...
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
Desta forma, a associação (termo genérico) e sua face específica e especialmente protegida da Organização Religiosa pode perfeitamente existir como uma prática social plena de valor, sem que dela tome conhecimento o Estado. Para dirigir-se a este, todavia, quando há necessidade de obrigar outrem a alguma prestação ou abstenção (no presumível interesse de seus associados/membros), deverá conformar-se ao Registro que lhes conferirá personalidade jurídica e capacidade plena inclusive para figurar nos pólos ativo e passivo de lides judiciais ou administrativas. Caso contrário, os associados poderão emitir procuração para seus líderes ou formar litisconsório para litigarem conjuntamente10, mas em nome próprio.
Extraido de:

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Arquétipos dos guias


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https://www.youtube.com/watch?v=pRdyHouIReU

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Mensagem da Sexta-Feira Santa

"E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota,
Onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.
E Pilatos escreveu também um título, e pô-lo em cima da cruz; e nele estava escrito: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS."

João 19:17-19


Hoje celebramos a paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, aquele que veio a esse mundo como um homem como todo homem, mesmo sendo o filho de Deus. Jesus poderia ter liderado um exército, ajuntado uma milícia, e ter lutado contra o Império Romano, poderia ter-se coroado rei dos judeus no plano físico, político e material, mas ao invés disso se deixou prender, foi julgado como um criminoso comum, condenado à morte e crucificado, a pior espécie de morte da época. Não consigo imaginar o que seria do mundo se Jesus tivesse decidido seguir a carreira de imperador político, ou até mesmo se tivesse feito aliança com os fariseus e tivesse entrado para o sinédrio, o senado judeu da época, Se Jesus tivesse se rendido provavelmente não teríamos hoje o que chamamos de cristianismo, não o falso cristianismo materialista, mas o cristianismo no mais puro sentido, o cristianismo que nos manda amar ao próximo como a nósmesmos.
Por isso quando vejo cristãos se corrompendo, se vendendo, politicos ditos cristãos aceitando suborno, propina, desvios de dinheiro, eu penso o quão distante eles estão do Cristo, nada possuem do galileu que se recusou a reinar como imperador terreno dos judeus, pelo contrário, são lobos em pele de ovelha que tudo fazem pelo poder secular, pela ganância.
Que hoje nos recordemos que aquele que merecia de fato não apenas o título de Rei dos judeus, mas sim de todo o universo, só foi coroado em sua morte, e assim mesmo sua coroa foi de espinhos, seu título não foi lido por um arauto, mas pregado sobre a cruz que lhe serviu de instrumento de sacrifício. Não teve vestes reais, só vestiu o púrpura, usado pelos imperadores, no local de sua morte, pouco antes de ser crucificado, e mesmo assim lhe vestiram com o púrpura em tom de deboche, enquanto lhe batiam, o seu cetro foi um pedaço de cana, que lhe deram na cabeça com ele.
Sou cristão, e é esse cristo que procuro seguir, aquele que não se prende à coisas materiais, aquele que não compactua com campanhas de prosperidade, aquele que não se prendeu ao poder terreno, antes a tudo renunciou para cumprir sua missão por mim, por você, por toda a humanidade.

"De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus,
Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;
E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.
Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome;
Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra,
E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai."

Filipenses 2:5-11

domingo, 9 de abril de 2017

Mensagem para o Domingo de Ramos 2017


"Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé e Betânia, perto do monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos,
dizendo-lhes: "Vão ao povoado que está adiante de vocês; logo que entrarem, encontrarão um jumentinho amarrado, no qual ninguém jamais montou. Desamarrem-no e tragam-no aqui.
Se alguém lhes perguntar: ‘Por que vocês estão fazendo isso? ’ digam-lhe: ‘O Senhor precisa dele e logo o devolverá’ ".
Eles foram e encontraram um jumentinho, na rua, amarrado a um portão. Enquanto o desamarravam,
alguns dos que ali estavam lhes perguntaram: "O que vocês estão fazendo, desamarrando esse jumentinho? "
Os discípulos responderam como Jesus lhes tinha dito, e eles os deixaram ir.
Trouxeram o jumentinho a Jesus, puseram sobre ele os seus mantos; e Jesus montou.
Muitos estenderam seus mantos pelo caminho, outros espalharam ramos que haviam cortado nos campos.
Os que iam adiante dele e os que o seguiam gritavam: "Hosana! " "Bendito é o que vem em nome do Senhor! "
"Bendito é o Reino vindouro de nosso pai Davi! " "Hosana nas alturas! "
 Marcos 11:1-10

Hoje celebramos o primeiro domingo da Semana Santa, o Domingo de Ramos, e relembramos a entrada de Jesus em Jerusalem montado em um jumentinho, enquanto o povo lhe saudava com ramos e os colocavam sobre seu caminho. Jesus sendo o Filho de Deus poderia ter deixado seu ego inflar, e ter entrado em Jerusalem num grande corcel, num alazão, num cavalo branco, ou em uma liteira, mas não, ele escolheu entrar humildemente montado em um jumentinho. Hoje em dia o que mais vemos são pseudos padres, pastores, bispos e "apóstolos" se gabando de possuirem bens e riqueza material, o próprio Malafaia se gaba de sua Mercedes Benz a todo momento, em toda entrevista, e ai me pergunto, cadê a humildade que Jesus demonstrou? Cadê os ensinamentos de Jesus? Será que não aprenderam nada com o Mestre? Acredito que se fosse hoje em dia seria tipo Jesus entrando em Jerusalém num Fiat 147, ou num fusquinha, enquanto os sacerdotes desfilam em seus carros importados. Vemos pastores hostentanto hiates, jatinhos helicópteros, e com isso percebemos o qão distante estão do Jesus em seu jumentinho. O pior de tudo, além de tais pregadores serem gananciosos ainda ensinam ao povo a também o serem, são como Jesus falou, correm o mundo para fazer um prosélito, e quando o fazem, o tornam piores do que eles, são cegos guiando outros cegos. Que nesta Semana Santa deixemos de lado o bacalhau, o ovo de páscoa, o coelho, e todas as demais vaidades, que possamos montar em nosso jumentinho humildemente e seguirmos rumo à Jerusalém celeste.

Em Cristo,
Bispo +Rodrigo Faddoul


terça-feira, 28 de março de 2017

O inferno de fogo e o Deus de amor

Quem diz que Deus vai jogar qualquer pessoa num inferno de fogo e enxofre nunca conheceu o amor de Deus nem o Deus de amor. Como que um Deus sendo o princípio de todo o amor lançaria alguém pra sofrer eternamente em fogo e enxofre? É claro que isso não significa que não colheremos o fruto de nossas más ações, mas tão logo quitada a dívida seremos livres. O próprio Jesus falou que o castigo pelos nossos atos não é eterno: "Eu te digo, em verdade, que de lá não sairás enquanto não pagares até o último centavo." (Mateus, 5:26). Note a expressão "até que", significa que pagaremos pelos nossos erros, mas após a dívida ser quitada até o fim não haverá mais castigo, estaremos livres para progredir. E o que é esse castigo? Nada mais é que prisões que nós mesmos criamos a partir de nossos atos e nossas atitudes, nossos pensamentos e vibrações, nós atraímos egrégoras de espíritos baixos e passamos a conviver com eles, em um lugar sem luz, até que nos arrependamos, possibilitando assim a paga de nossos erros pelo arrependimento, quando isso acontece nós galgamos para mundos mais iluminados, progredindo até os mundos mais etéreos, e um dia iremos nos imiscuir em Deus, voltaremos de onde viemos.

Em Cristo,
Bp. Rodrigo Faddoul

PS: Não copie e cole, compartilhe!

quinta-feira, 9 de março de 2017

Conversa franca sobre Romanos 1

Quando um cristão tradicional quer acusar um cristão membro de uma igreja inclusiva, o repertório é sempre o mesmo: uma pequena lista de textos bíblicos em que atos homogenitais (entre homens, apenas) são condenados: Levítico 18.22; 20.13; 1ª Coríntios 6.9 e 1ª Timóteo 1.10. Com o nascimento de mais uma igreja inclusiva – Comunidade Cidade de Refúgio – liderada pelo casal de pastoras Lanna Holder e Rosânia Rocha, as acusações se multiplicaram. Entretanto, os acusadores cometeram um grave erro ao aplicar tais textos às mulheres, pois nenhum deles faz referência ao sexo entre elas. Nem mesmo Romanos 1.26. Como assim, pastor Alexandre? Paulo foi tão claro!

Bom, a clareza depende de como lemos e interpretamos determinado texto. Uma das regras da Hermenêutica é comparar versículos paralelos – ou seja, que tratem do mesmo assunto – para esclarecer termos obscuros. É aí que os acusadores ficam encurralados! A condenação do sexo entre homens ainda encontra certo número de textos para embasá-la. Mas o que dizer do sexo entre mulheres? Além de Romanos 1.26, nada mais há nas Escrituras que se refira a ele. Se Paulo condena aí a orientação homossexual, comum a homens e mulheres, por que não fez o mesmo em outros textos? Uma coisa, porém deve ficar muito clara: as razões do sexo homogenital masculino condenado na Bíblia não são as mesmas de hoje. Mas esse é um assunto para outro artigo!

É interessante notar como os acusadores esquecem-se por completo do contexto de seus versículos-bala! Ignoram as regras da hermenêutica e da exegese e depois nos acusam de manipular as Escrituras!  Bom, mas vamos ao texto em questão:

26 - Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.
27 - E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.

Para analisar corretamente esse texto, precisamos de dois princípios da hermenêutica e da exegese: o contexto textual e sociocultural.

Quando analisamos o contexto textual, percebemos que os versículos 26 e 27 de Romanos 1 não são independentes, mas têm o seu conteúdo específico iniciado a partir do versículo 18: a impiedade dos homens e a supremacia de Deus em relação à Criação. A idolatria é um dos temas centrais, o que fica evidente entre os versículos 23 a 25 (Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém). O Versículo 26 inicia-se com a expressão por isso, ou seja, explica porque aqueles atos antinaturais foram cometidos.

A idólatra Roma servia a muitos deuses, bem como cultuava o hedonismo - o prazer como bem supremo. Paulo faz uma análise das consequências dessa realidade tão abominável diante de Deus. Uma das práticas comuns aos cultos romanos era a prostituição cultual. Ali, homens heterossexuais se envolviam em rituais homossexuais, o que justifica a expressão: deixaram a relação natural com a mulher. Ou seja, homens heterossexuais, trocaram uma conduta sexual que lhes era natural por outra, contrária à sua natureza, ou seja, uma prática homossexual, simplesmente como fonte de prazer e de expressão ritualística.

Quanto ao sexo entre mulheres, o texto de Paulo não é definitivo em afirmá-lo, havendo, inclusive, quem acredite que o Apóstolo mencionava o sexo anal heterossexual. Essa interpretação perdurou durante toda a Idade Média. Tudo indica, porém, que o texto esteja fazendo referência a duas cerimônias comuns entre os romanos daquela época: o culto a Bona Dea – restrito às mulheres, inclusive com a prática de cópula com animais; e o culto a Baco, ou bacanais, em que o incesto era parte dos ritos de iniciação. Todas essas práticas eram contrárias à natureza segundo o pensamento judaico, para o qual a função principal do sexo era a procriação.

O texto faz menção a relações contrárias à natureza praticadas em um contexto bastante específico: a adoração de ídolos. Nenhuma ideia há que reflita as relações homoafetivas e monogâmicas da sociedade atual.

O texto fala de homens e mulheres que praticaram perversões sexuais específicas, contrárias a sua natureza. Homens de orientação homossexual nunca deixaram a relação natural com a mulher (v.27), simplesmente porque isso nunca lhes foi natural! O sexo entre mulheres não está em questão visto que a penetração e a semente (exclusiva dos machos, segundo a visão da época) eram necessárias para que um ato fosse considerado de natureza sexual.

Alguns leitores podem estar pensando: “que nada, essa interpretação é forçada! Vocês estão deturpando a Bíblia para ajustá-la às suas práticas homossexuais!” Bom, para provar que essa análise não é invenção de teólogos gays, vamos ver o que diz o comentário da Bíblia de Estudo Dake, CPAD, sobre esse texto:

“... Esse tipo de idolatria tem sido a raiz de toda imoralidade abominável dos pagãos. Os ídolos têm sido os padroeiros da licenciosidade (vv. 23-32). Quando davam forma humana a seus deuses, eles os dotavam de paixões e desejos e os representavam como escravos de infames perversões sexuais e como possuidores de poderes ilimitados de satisfação sexual. Deus permitiu que eles se entregassem a pecados homossexuais e perversões desse tipo.

Entretanto, não faltam tentativas de alterar o que Paulo escreveu. Vejam como a Nova Bíblia Viva, Editora Mundo Cristão, Edição 2011, traduziu Romanos 1.26:

“Esta é a razão pela qual Deus os entregou a paixões pecaminosas, a tal ponto que até suas mulheres se voltaram contra o plano natural que Deus tinha para elas e cederam aos pecados sexuais entre elas mesmas.”

Bom, diante de tudo o que expusemos, deixo uma pergunta aos nossos acusadores: Quem está deturpando a Bíblia para ajustá-la às suas crenças?

Fonte: www.teologiaeinclusao.blogspot.com.br
Autor:  pastor Alexandre Feitosa

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A Violeta Ambiciosa

Era uma vez, uma fragrante e formosa violeta que vivia placidamente em meio às amigas, e balouçava-se feliz entre outras flores num jardim solitário.
Uma manhã, quando a sua coroa era adornada pelas contas de orvalho, ergueu a cabeça, e olhando para o alto viu uma rosa, alta e linda que, cheia de orgulho, procurava o espaço como uma tocha ardente sobre lanterna de esmeralda.
A violeta abriu os lábios azuis e disse:
- Como eu sou infeliz em meio a estas flores e como é humilde a posição que ocupo diante delas! Fez-me a natureza para ser curta e pobre... Eu vivo muito próxima da terra e não posso erguer minha cabeça até o céu azul ou voltar minha face ao sol como as rosas fazem!...
E a rosa ouviu as palavras de sua vizinha; ela riu e comentou:
- Como é estranha a tua fala! Tu és feliz, embora não possas compreender tua fortuna. A natureza dotou-te de fragrância e beleza, o que não fez com nenhuma outra flor... Aparta de ti estes pensamentos, sê contente e lembra-te de que aquele que se humilha será exaltado e aquele que se exalta será esmagado.
- Consolas-me porque tens o que eu almejo... Procuras amargurar-me cada vez mais com a idéia de que és grande... Como é dolorosa a pregação dos felizes para o coração do miserável! E como o forte é severo quando quer ser o conselheiro dos fracos! – respondeu a violeta.
E a natureza ouviu o diálogo da violeta e da rosa, aproximou-se e disse:
- O que te aconteceu, irmã violeta? Foste sempre humilde e doce em todas as tuas ações e palavras. Será que a ambição invadiu teu coração, embotando teus sentidos?
Numa voz suplicativa, a violeta respondeu, dizendo:
- Ó mãe grande e misericordiosa, cheia de amor e simpatia, imploro-te com todo o meu coração e minha alma, que atendas às minhas súplicas e permitas que eu seja rosa por um dia apenas.
- Não sabes o que está ambicionando; ignoras a tristeza que se oculta atrás desta ambição cega. Se chegasses a rosa serias triste, e logo te encherias de arrependimento – respondeu a natureza.
- Muda-me numa rosa alta, porque eu quero soerguer a cabeça com orgulho; e, seja qual for o meu destino, eu quero ser rosa.
A natureza concordou, dizendo:
- Ó violeta ignorante e revoltada, acederei aos teus desejos, mas se a desgraça cair sobre ti, deverás queixar-te apenas de ti.
E a natureza estendeu os dedos misteriosos e mágicos, e tocou as raízes da violeta que, imediatamente, se transformou numa alta rosa, pompeando sobre todas as outras no jardim.
À tarde, o sol tornou-se espesso de nuvens negras; os elementos raivosos perturbaram o silêncio da existência com raios, e começaram a atacar o jardim, enviando à terra enorme chuva com fortes ventos. A tempestade lacerou os ramos e desenraizou as árvores e quebrou as hastes das flores altas, poupando apenas as pequeninas que cresciam bem junto ao coração da terra.
Aquele jardim solitário sofreu muito ao impacto dos céus adversos, e, quando a tempestade acalmou e o céu clareou, todas as flores estavam deitadas pelo chão e nenhuma escapara à fúria da natureza, exceção do clã de pequenas violetas nascido bem junto ao muro do jardim.
Tendo erguido a cabeça e contemplando a tragédia das flores e árvores, uma das violetas jovens sorriu feliz e chamou por suas companheiras, dizendo:
- Olha o que a tempestade fez às flores orgulhosas!
- Somos pequenas, vivemos próximas da terra, mas estamos a salvo da ira dos céus – disse outra violeta. E uma terceira acrescentou:
- Por sermos pobres em altura a tempestade é incapaz de subjugar-nos.
Naquele momento a rainha das violetas viu a seu lado a violeta metamorfoseada, derrubada para a terra pela tempestade e contorcendo-se sobre a úmida alfombra como um soldado ferido num campo de batalha. A rainha das violetas ergue a cabeça e convocou sua família, dizendo:
- Olhai, minhas filhas, e meditai sobre o que a ambição fez à violeta que se transformou numa rosa orgulhosa por uma hora. Seja a memória desta cena uma lembrança eterna da vossa boa sorte.
E a rosa moribunda moveu-se e reuniu o que ainda sobrava de suas forças e tranquilamente disse:
- Vós sois contentes e joviais. Nunca temi a tempestade. Ontem eu, também, estava satisfeita com a vida, mas o contentamento agiu como uma barreira entre minha existência e a tempestade da vida, confinando-me numa doentia e vigorosa tranquilidade de espírito. Eu poderia continuar levando a mesma vida que levais agora, inclinando-vos assustadas para a terra... Eu poderia ter esperado pelo inverno, para com a neve branca amortalhar-me e entregar-me à morte que certamente é o abrigo final de todas as violetas... Eu estou feliz agora porque fora do meu pequeno mundo estou mergulhada no mistério do universo... coisa que vós ainda não fizestes. Eu devo ter encarado a ambição, cuja natureza é mais alta do que eu, mas, enquanto eu estava atenta ao silêncio da noite, ouvia o mundo celeste falando a este mundo terreno: “a ambição além da existência é o propósito essencial do nosso ser”. Nesse momento meu espírito revoltou-se, e meu coração sonhou por uma posição mais alta do que a minha limitada existência. Imaginei que o abismo não pode ouvir o canto das estrelas, e naquele momento comecei a lutar contra a minha pequenez e ambicionar por aquilo que não me pertence, até que a minha revolta se transformou num grande poder, e o meu desejo numa vontade criadora... A natureza, que é o grande objeto de nossos sonhos mais profundos, atendeu a minha súplica e transformou-me numa rosa com seus mágicos dedos.
A rosa silenciou por um momento, e de voz frouxa, ainda cheia do seu orgulho, disse:
- Vivi por uma hora apenas como uma rosa orgulhosa; existi por algum tempo feito uma rainha; contemplei o universo através dos olhos da rosa; ouvi o sussurro do firmamento pelos ouvidos da rosa e toquei as dobras do manto da luz com as pétalas da rosa. Alguma de vós poderá proclamar semelhante honra?
Tendo assim falado, baixou a cabeça e, com voz sufocada, murmurou:
- Agora eu posso morrer, pois minha alma alcançou o seu objetivo. Estendi, finalmente, o meu conhecimento para o mundo que fica além da estreita caverna do meu nascimento. Este é o desígnio da vida... Este é o segredo da existência.
Então a rosa estremeceu, dobrou lentamente as suas pálpebras, e respirou pela última vez com um sorriso celestial nos seus lábios... um sorriso pleno de esperança e de propósito de vida... Um sorriso de vitória... Um sorriso de Deus.
Khalil Gibran